terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Muralha

Somos puros, espontâneos, verdadeiros, destemidos, desmedidos... até ao primeiro grande desgosto de amor, até à primeira traição, até sentirmos aquela dor que quase nos esmaga o peito.
Depois de ultrapassada a dor, depois de saradas as feridas, o nosso principal desejo é que não nos voltem a inflingir tal sofrimento. Como não somos responsáveis pelas acções alheias, temos que ser nós a prevenir que tal aconteça. Fecha-se o coração, cria-se uma muralha à sua volta, rejeitam-se aproximações e manifestações de carinho (das quais existe sempre alguma desconfiança), ignoram-se sentimentos (ou pelo menos faz-se por isso). Refugiamo-nos no sexo carnal, para sentir a aproximação de outro corpo, tão necessária, sem que para isso tenhamos que sentir, ou de nos dedicar seja a quem for. Não deixar entrar para não temer o dia em que ele queira sair.
Sentimo-nos seguros porque vivemos de forma controlada, controlamos sentimentos, aproximações, desejos e vontades. Vivemos seguros até ao dia.....

“- Sou muito chato?
- Não, se fosses eu não estava aqui.
- Então mas até os chatos têm direito a que gostem deles!
- Verdade, sendo assim das duas uma, ou não és chato, ou eu gosto de ti...
- Tu gostas de mim.
- És um bocado convencido!
- Não sou não.
Num murmúrio....
- Pois não.
Beijou-a na testa e adormeceu.”

Tanto tempo que se investe para construir aquela muralha, tanto tempo que é necessário para sentirmos segurança dentro do nosso mundo controlado. Para que depois, assim de uma forma tão simples, as muralhas caem por terra e ficamos despidos de qualquer protecção. Vulneráveis de novo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Saudade

Tenho saudade mas não consigo voltar.
Mais de metade da minha vida ligada a um lugar, lugar onde aprendi a viver, onde aprendi a ser gente, onde aprendi a sentir. Um lugar marcado pelas primeiras vezes: a primeira grande e dolorosa mudança; a primeira amiga para a vida; o primeiro beijo atrás do Pavilhão; a primeira saída à noite; as primeiras conquistas de independência; a “primeira vez”; o primeiro amor; a primeira traição; as primeiras desilusões; as primeiras grandes lições....
Anos em que cantei, dançei, convivi, aprendi, sonhei, chorei muito, sorri mais ainda. Anos passados na minha Figueira da Foz, obcecada pela sua beleza e pelo pequeno Mundo que lá criei, um Mundo onde fui incrivelmente feliz num momento, e miserável no seguinte, onde tudo era sentido com tanta intensidade, talvez devido à inexperiência da tenra idade.
Agora afastada desse meu Mundo que ficou lá atrás, tenho saudade, mas não consigo voltar.